O MITO QUE TRAIU A PRÓPRIA BASE

Jair Messias Bolsonaro surgiu como um improvável salvador. De capitão expulso do Exército por indisciplina a deputado do baixo clero, passou décadas quase despercebido no Congresso, acumulando frases polêmicas e poucos projetos relevantes. Mas quando a crise moral, econômica e política atingiu seu auge, ele se apresentou como a voz de fora do sistema, alguém que falava sem filtros, que dizia enfrentar inimigos poderosos, e que encarnava o grito de revolta de uma população cansada.

Em 2018, surfou na onda do antipetismo, na indignação contra a corrupção e no desespero diante da violência e da crise econômica. Milhões depositaram nele suas últimas esperanças. Para muitos, Bolsonaro não era apenas um candidato: era o mito, o homem que traria um basta à velha política, que acabaria com os conchavos, que governaria sem ceder à corrupção e que recolocaria o Brasil em seu caminho de grandeza. O mito parecia invencível. Mas, como a história mostrou, até os mitos podem se desfazer diante da realidade – e a esperança de uma nação foi mais uma vez traída.

O discurso era claro: Bolsonaro prometia honestidade, colocaria técnicos no lugar de corruptos, nunca negociaria com o Centrão e seria guardião da soberania nacional. Erguia a bandeira dos valores cristãos e da família, proclamava Deus acima de todos e Brasil acima de tudo. E prometia prosperidade, empregos, redução de impostos, crescimento interno e liberdade econômica. A base acreditou. O povo acreditou. Mas a prática revelou algo bem diferente.

Poucos meses após assumir, a narrativa desmoronou. Para se manter no poder, Bolsonaro se entregou justamente ao Centrão, grupo que sempre chamou de câncer da política. Arthur Lira, Ciro Nogueira e outros expoentes da velha política se tornaram pilares do seu governo. O discurso de independência evaporou, e o homem que prometeu romper com a corrupção se tornou refém dos mesmos conchavos que dizia destruir.

A corrupção não estava apenas nos adversários. Estava dentro de casa. As rachadinhas e movimentações financeiras suspeitas de Flávio Bolsonaro, ligadas ao ex-assessor Fabrício Queiroz, escancararam que a honestidade não era bandeira, mas fachada. O clã presidencial se envolveu em negócios obscuros, em uso indevido de verbas parlamentares e, em vez de combater a corrupção, Bolsonaro preferiu blindar os seus. Sua luta nunca foi pelo povo, mas pela preservação da própria família.

Quando a pandemia atingiu o Brasil, a figura do mito mostrou sua face mais cruel. Bolsonaro minimizou a gravidade da Covid-19, chamou de “gripezinha”, atrasou a compra de vacinas e preferiu transformar a saúde em guerra ideológica. Enquanto milhões sofriam e morriam, o governo se via envolvido em suspeitas de superfaturamento na compra de vacinas, como no escândalo da Covaxin. Ao invés de liderar a nação em meio ao caos, Bolsonaro aprofundou a divisão, jogando brasileiros uns contra os outros.

 

A economia também não trouxe o alívio prometido. A inflação corroeu salários, a gasolina e o gás de cozinha alcançaram preços históricos, alimentos básicos se tornaram inacessíveis e o trabalhador perdeu poder de compra. O desemprego seguiu alto, as privatizações não trouxeram benefícios reais, e setores estratégicos ficaram ainda mais vulneráveis ao capital estrangeiro. A prosperidade virou miséria, e a promessa de um Brasil forte virou frustração.

No campo político, Bolsonaro escolheu a guerra cultural. Dividiu o povo, instigou ódio entre esquerda e direita, transformou adversários em inimigos e fez com que muitos de seus seguidores defendessem mais o homem do que a própria pátria. O resultado foi um Brasil mais fraturado, mais instável e mais enfraquecido.

Os que acreditaram nele sentiram o peso da traição. Os que esperavam um governo sem conchavos, viram o Centrão no poder. Os que esperavam combate à corrupção, viram blindagem da própria família. Os que esperavam prosperidade, receberam inflação, carestia e desemprego. Os que acreditaram na soberania, viram a entrega de setores estratégicos. O mito se dobrou ao sistema e se mostrou incapaz de sustentar aquilo que prometeu.

Bolsonaro não caiu por perseguição, nem porque a esquerda o derrotou. Caiu porque traiu a si mesmo, traiu os seus princípios e traiu a esperança de milhões. No fim, mostrou-se um homem comum, seduzido pelo poder, sustentado pelos mesmos corruptos que dizia combater e disposto a sacrificar sua base em troca de sobrevivência política.

Se Lula será lembrado como o maior ladrão da história do Brasil, Bolsonaro será lembrado como o maior traidor da esperança popular. E o Brasil, mais uma vez, perdeu anos preciosos em falsas promessas, falsas batalhas e falsas lideranças.

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